quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Eu sei que apenas eu me sondo

Nasci dentro de uma família católica. Nem me lembro qual foi a primeira vez que participei de uma missa. Com certeza eu era criança de colo.

Era comum na minha família, antes que minha querida avó falecesse, comemorar datas religiosas com a celebração do Terço. Eram festas cheias de foguetes, fogueira e bebidas preparadas com pinga, como o Quentão, por exemplo. Era o santo e o humano festejados juntos.

Acompanhava o terço de forma extremamente mecânica. Não parava para pensar nas palavras. Apenas repetia, acompanhando meus parentes e amigos.

Cresci ouvindo minha mãe dizer que dinheiro não trás felicidade. Que fazer coisas erradas é pecado. Que Deus castiga... Cresci participando de grupos de jovens. Hoje sei que não era por pensar que iria para o céu, mas por ter pessoas por perto. Por ter as meninas. Por poder falar em público. Por ter pessoas para elogiar minha inteligência.

Deus era apenas uma conseqüência.

Fazia o que todos faziam. Rezava o que todos rezavam. Defendia a existência de Deus para fazer parte do grupo, assim como um boizinho fuma para fazer parte da turma.

Com o tempo comecei a perceber algumas incoerências aqui e ali, mas me punia por pensar isso pois, afinal, no meu subconsciente, Ele era todo poderoso e poderia me punir. Mas é difícil ter uma lógica tão desenvolvida como tenho e aceitar a existência de um Pai que nunca apareceu. Que nunca se revelou senão através de terceiros ou escondido entre nuvens. É difícil saber que mesmo Ele podendo tudo, nos coloca nesse mundo para sofrermos e pagarmos por nossos pecados. É difícil acreditar que estamos aqui em um processo evolutivo, por não sermos dignos e nem capazes de entender as coisas espirituais.

Uma vez li um artigo com o título: Ateus, graças a Deus. Me lembrei do livre arbítrio, que diz que cada pessoa é livre para seguir seu caminho. Escolhi não acreditar em algo que me manipula, oprime meus sentimentos e que me vigia para ter certeza que não estou fazendo nada pecaminoso. Escolhi viver. Escolhi criar o meu caminho e dar a mim mesmo os créditos quando as coisas derem certas ou erradas e não a um Deus que se esconde. Escolhi não me culpar e ficar pensando o que fiz de errado quando o mundo me deixa triste.

Acredito que não há outra vida além dessa. Que quando morrer irei apenas apodrecer e que o que ficará serão apenas minha existência na memória daquelas pessoas que se lembrarem de mim.

Sei que o único que me sonda sou eu e que vivo só nesse mundo. Ainda assim sou feliz por gostar da vida que tenho, mesmo com todas as dores que sinto, sou feliz.


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