sábado, 4 de julho de 2009

O tempo nos gasta. Nos come pele, carne, ossos. Leva embora nossa visão, audição, fôlego. Ele nos mata. Carrasco dos que, assim como eu, esperam. Não há como escondermos dele, pois acha-nos em qualquer lugar, qualquer hora ou segundo.

O tempo é o caminho da morte. Para uns breve e curto caminho. Para outros é longo. Não tão longo quanto a maioria deseja. Nunca há tempo suficiente. O tempo é nossa condução ao fim. Condução da qual não podemos saltar. Não há desvios. Não há alternativas.

Deitado nessa pequena cama que um dia já foi minha. Olhando as paredes desse quarto que um dia já foi meu. Tudo está como antes. Parece que esse carrasco não passou por aqui. Porém, olhando o pó, teias de aranha e rachaduras nas paredes, percebo que ele esteve aqui. Talvez a procurar-me. Não me encontrou deitado. Saí daqui a muitos anos atrás. Encontrou-me em outros lugares. Castigou-me. Riu de mim quando eu dizia que não tinha tempo para a vida.

Quarto nostálgico. Lembrei-me de quando achava que sabia de tudo. Hoje sei que nem o tempo sabe tudo. Nada está escrito. Podemos fazer nossos caminhos. A cada segundo podemos escrever a história de nossas vidas.

Não podemos com o tempo. Com ele ninguém pode. Cada segundo é um grão de vida que nos é tirado. Não há como ser diferente. Mesmo sabendo disso sou feliz. Sei que um dia morrerei e que não há como fugir desse destino. Por saber que irei morrer, vivo intensamente. Por isso acredito, todos os dias, que o grande amor da minha vida está logo ali depois daquela curva. Por acreditar procuro. E por saber que meu tempo é cada dia mais curto, procuro com pressa. Mas, sem pressa, observo cada detalhe quando encontro uma possibilidade.

Encontrei uma possibilidade. E aqui, deitado nessa cama, não consigo deixar de pensar nela. Não apenas no sorriso, mas em toda dificuldade pela qual passamos desde o dia em que declarei-me a ela. Dificuldade que juntos, separadamente, tentamos resolver.

Quero que ela seja feliz. Seguindo o caminho que decidir seguir. Ela quer que não me machuque. Quer me ver sempre feliz como sou.

Conflito! Temos um conflito! Quero subir. Ela quer descer. Eu a quero. Ela me quer. Ideias diferentes. Sentimentos diferentes. Conflito! Nossa história, hoje, é como areia movediça. Se não nos movemos não saímos dessa situação. Se nos agitamos, afundamos. Cada vez mais fundos nessa história. Eu a desejo como flor. Ela me quer como perfume. Mas há os espinhos. Espinho para mim. Orvalho para ela.

Tempo... Tempo ao tempo. Mas sabendo que o tempo é proporcionalmente menor a medida que cada vez mais eu ganho mais tempo, tenho medo. Medo de que a flor murche ou o perfume acabe antes que possamos resolver essa história. Medo! Temos medo!

Enquanto ele, o tempo, passa por nós trazendo a experiência, o carinho, o afeto, a preocupação mutua, a fé, a esperança, a amizade, o amor, a dor, o cuidado, as lágrimas, os sorrisos, as gargalhadas, nós vamos vivendo. Vida! Viver é isso.

Dou a ela uma vida intensa. Tirei-a daquela vida de menina que não sabia por qual caminho seguir. Dou-lhe vida de mulher. Cada dia uma dose a mais. Cada dia uma intensidade maior. Vida! Viver é isso. Ela me dá seu sorriso, seu carinho, sua atenção, sua companhia, sua alegria, suas lágrimas, parte de sua vida. Quanto mais ela pensa em mim, mais forte me sinto. E ela faz isso cada vez mais. Lembra de mim até mesmo quando, pelo menos nas convicções dela, não devia lembrar.

Faço parte da vida dela. Tenho meu espaço lá naquele coração que ei de sentir bater forte encostado ao meu. Ela faz parte da minha vida. Tem o espaço dela nesse meu coração. Esse que bate forte quando penso nela. Esse que quase para quando ela corta raízes da minha esperança. Esse que algumas vezes, brincando ou não, chamo de coração burro. Burro por escolher quem já está escolhida e já escolheu. Sei, no entanto, que de burro ele nada tem, pois se tivesse não teria escolhido alma tão linda para tomar conta dele.

Tempo... Meu carrasco. Algumas vezes me tortura por passar tão rápido quando estou conversando com ela e por passar tão vagarosamente quando a única coisa que posso fazer é pensar, imaginar, me iludir. Ilusão! Ela me diz que isso tudo é ilusão. Que seja! Melhor viver uma ilusão que não viver ou viver nada.

Estou confuso e por isso calado. Mesmo querendo tagarelar estou procurando ficar calado. Confuso! Quero subir e descer ao mesmo tempo. Estou confuso.

Tempo... Maldito tempo! Mas, espere! Que estou eu dizendo de ti tempo? Meu único aliado. Perdoe esse ingrato que, por uma mistura de impaciência, descrença, saudade, dor, sentimento de injustiça, confusão, incerteza, ilusão e paixão reclama de ti. Desculpe-me, meu amigo tempo, por reclamar assim de ti. Mostra-me, por favor, que amor de verdade só se conquista com sua ajuda.

Tempo... Meu amigo tempo. A morte é nossa última parada. E só lá perderei minhas esperanças de tê-la como o grande amor de minha vida.

Tempo. Meu amigo tempo.

Um comentário:

Tata disse...

É intrigante e assustador "o tempo"...
Mesmo com todo conhecimento e inteligência, com todo o raciocinio, com todo desenvolvimento, com toda lógica possível, não conseguimos controlar o tempo.
Talvez ele (o tempo) seja aquilo que mais gostariamos de ter nas mãos para controlar, mas não podemos.
Não somos capazes, nem mesmo com toda nossa força, acrescentar um segundo se quer a nossa vida.

Engraçado tambem, como o que mais desejamos é continuar vivendo, prolongar nossos dias, esticar um pouquinho mais a nossa vida, e isso é a unica coisa sobre a qual não temos poder.

;)

Por mais difícil que seja, respeitando e tentando manter o silêncio.