sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

João entrou em seu apartamento. Enxugou lágrimas que ainda insistiam em correr por sua face que, poucas horas antes, estava triste. Porém, naquele momento, seu rosto era de um homem aliviado e o ar, que entrava por suas narinas, era suave e fortalecedor.

Pensou em tudo que acontecera naquela noite, em tudo que ouvira, sentira e aprendera.

Entrou para seu quarto. Deitou-se. Outras lágrimas, mais intensas, correram pelo seu rosto, mas dessa vez não enxugou-as. Encolheu-se como criança pequena e entendeu que, mesmo estando na cama onde muitas passaram, ele não tinha uma mão, sequer, para segurar.

A madrugada findou-se e com ela todo vazio que estava dentro de João. "O choro é o banho da alma", pensou ele ao acordar naquele domingo de sol.

Tomou um banho. Vestiu uma de suas várias camisetas pretas, uma calça jeans e calçou um velho sapato. Saiu rumo a uma feira a poucos metros de casa. Sua face estava transmitindo alegria pura. Todas as pessoas, por quem na rua cruzava, lhe sorriam e desejavam bom dia. "Fazia tempo que isso não acontecia", pensou enquanto comia empadas e tomava caldo de cana.

A semana começou e, durante um almoço, do nada, vira-se para seu colega de trabalho e diz:

― Não quero namorar não!

― Por que não?

― Não sei ao certo. Não quero namorar e vou parar com essa vida bagunçada que levo. Chega de pessoas que só me dão sexo. Não quero mais isso.

― Fico feliz por você. O que lhe fez tomar essa decisão?

João olhou para além de uma vidraça que estava a sua frente. Reparou no vento e nas nuvens negras que se aproximavam. "O tempo esta fechando", pensou ele. Voltou-se para seu colega e respondeu finalmente:

― Porque as pessoas, quando querem, mudam e quero mudar.

― Por alguém em especial? Esta gostando de alguém?

― Por mim. Quero mudar por mim. No entanto, quem me fez ver a necessidade de mudar, foi Maria. Ficamos por mais de hora conversando e chorando. Ela me disse várias coisas. Coisas profundas que me fizeram gostar mais ainda dela, mas, principalmente, voltar a gostar de mim.

― Então é isso? Vai deixar de sair com todas as mulheres que sai hoje, para ficar com Maria?

― Vale a pena deixar várias mulheres que me dão sexo e atenção por uma apenas?

― Mas elas lhe preenchem João?

― A maioria são vazias e ganham minha atenção só pelo sexo. Algumas me preenchem por algumas horas, outras me encantam pela beleza. Uma ou outra pela inteligência e determinação. Porém, a resposta para sua pergunta, infelizmente, é não.

― Mas então por que não fica com Maria?

João olha novamente através da vidraça, mas dessa vez não repara na natureza. Ele relembra tudo que Maria lhe disse. De todas as coisas que ela fez. Das vezes que mentiu, das que falou a verdade e lembrou-se de todas as vezes que ela disse que não queria apenas sexo, mas que também não queria nada sério. Olhou para seu colega e apenas gesticulou com os ombros em sinal de um evasivo "não sei".

Pensou em responder a verdade, mas não conseguiu, mesmo querendo dizer a verdade, não conseguiu.

Ele sabe que vários motivos o impedem de ficar com Maria. Alguns dele mesmo, outros tantos de Maria. Sabe que, também, é pelo medo que tem de fazer isso por uma pessoa e decepcionar-se. Sabe, porém, que esse medo pode ser superado e por isso acredita que a principal razão é por ele não entender os gestos dela. Pela primeira vez, em vários anos, João não sabe que atitude tomar quando está ao lado de uma mulher.

"Que ironia", pensou João que, a pouco tempo, brincava com as inseguranças de tantas mulheres, agora se sente inseguro e não sabe que atitude tomar.

João é inteligente e sabe que seu medo e insegurança são pelo fato de estar pensando muito em Maria e isso, ao mesmo tempo que lhe fascina, lhe aterroriza. Ele tem medo da dependência e isso ele não quer (será que não?). É por isso, provavelmente, que João, mesmo sabendo que o sentimento que sente por Maria cresce a cada dia, tenta, mesmo sem sucesso, acabar com ele.

Mas o que mais perturba João é que esse sentimento, por ela, está muito além do desejo de conquista ou sexo. E, mesmo tendo passado tantos dias sem sexo, está tranquilo e com a alto estima transbordando. Talvez, por ter sido com Maria, sua última e empolgante aventura na cama. Talvez por essa última vez, ao terminar, não deixou João com aquele fatídico sentimento de vazio, pelo contrário, ele está bem até hoje.

Onde João quer ou vai chegar abandonando sua vida de esbórnia ele não sabe. O que sabe é que não estava bom antes e que por isso, pela necessidade de mudança, despediu-se de todos os casos e foi em busca de uma coisa bem simples: o suave toque das mãos de Maria.

João não está entendendo nada do que está acontecendo, mas ele não quer entender, ele quer apenas ir vivendo, cada dia melhor que o anterior e, se não for possível, espera suportar os momentos em que terá de chorar, novamente, sozinho.

Agora ele sabe que, após chorar, sua alma estará lavada novamente.

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