terça-feira, 30 de setembro de 2008

De volta ao luto

Fechei meus olhos e esperei acostumar-me com o escuro. Rodopiei várias vezes até perder a noção de direção. Caminhei dentro do meu subconsciente por horas, ainda com os olhos fechados, até ter certeza de que já não poderia mais me lembrar do caminho percorrido.

Abri meus olhos.

Com a pá da angustia cavei sete palmos, como manda a tradição. Ainda não estava fundo o bastante. Resolvi cavar três vezes mais. Exausto de tanto esforço, decidi que já era suficiente.

Lá, naquela cova profunda joguei o amor que sentia por você.

Coloquei nos olhos dele uma venda, para que nunca mais possa ver nenhuma expressão de esperança vinda do teu rosto. Tampei-lhe os ouvidos para que nunca mais possa ouvir, sequer, uma palavra por você proferida. Com uma fita selei os lábios para que nunca possa clamar por outra chance. Obstruí as narinas para que não tenha chance alguma de respirar ou sentir teu perfume. Para que não possa estendê-las em suplica de um afago, carinho ou carícia, as mãos prendi com algemas. E para que nunca mais caminhe em sua direção prendi uma enorme esfera de chumbo nos tornozelos.

Por cima joguei terra e nela joguei sal, para que nada mais brote dali. Por fim cobri com cimento, para que ninguém cave e desenterre-o.

Fechei os olhos. Rodopiei novamente. Caminhei por horas e voltei para o meu consciente. Pude, então, dormir novamente.


Letra

3 comentários:

Anônimo disse...

longe de casa ...

Junio Jose disse...

Volta logo!

Unknown disse...

Para que tudo isso se o mais importante você não pode nem tampar, nem algemar, que é o seu pensamento, a sua memória e infelizmente, ou não, você vai morrer sabendo que a culpa foi e sempre será sua.