terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Profundezas

Maria acordou tarde, como de costume. O sol, já bem no alto, esquentava o quarto. Mais uma vez ela estava com aquele gosto de cerveja do outro dia na boca. Corpo cansado. Cabeça pesada. Olhos moles e inchados. Caminhou até o banheiro. Sentou-se no vaso e aliviou-se. Ficou ali sentada, sem nada fazer, por mais alguns minutos. Não conseguia pensar direito. Os poucos pensamentos que surgiam eram confusos.

"Chega!", pensou Maria.

Ainda confusa, sem saber se aquele curto desabafo era para aquela inércia em que se encontrava ou se para aquela vida fútil que estava vivendo. Levantou-se. Olhou no espelho e sentiu-se feia. Viu-se gorda. Percebeu que o rostinho que antes era de menina, agora estava mais velho. Sentiu-se, mais uma vez, um lixo.

"Chega!", falou Maria.

Lavou o rosto. Escovou os dentes, na tentativa de sentir-se limpa. Passou um batom suave, pois não gostava de muita maquiagem. Procurou arrumar o cabelo mas, mais uma vez, sentiu-se feia. Mesmo assim jogou um sorriso nos lábios e invocou uma daquelas frases de livro de auto-ajuda do tipo: "você é feliz! Você pode!".

Voltou para o quarto, ainda com os olhos inchados e com aquele sorriso triste que só enganava a ela mesma e a quem não presta atenção nela. Mas, para aquelas pessoas que olhavam além daquele sorriso, era fácil perceber a tristeza em que Maria encontrava-se.

"Chega!", soluçou Maria.

Com os olhos cheios de lágrimas, com uma dor no peito e um vazio na alma desesperou-se.

"Chega! Chega! Chega! Não quero mais essa vida!", gritou. Porém ninguém a escutou chorar, soluçar e gritar. Mas sem que Maria soubesse alguém estava sentindo a dor que ela sentia. Chorava com ela.

"Maria! Maria! Maria!", gritou essa pessoa, mas Maria estava num buraco tão profundo que não ouviu e mais uma vez nessa história da vida chamada amor, duas almas se perderam.

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