segunda-feira, 7 de julho de 2008

A vida é feita de pequenos detalhes

Era quarta ou quinta-feira. Estava, eu, em Brasília com meus pensamentos. Ela, aquela minha amiga que gosta de frisar que somos amigos, que de agora em diante chamarei de Donna, me ligou. "Vamos para Ceres nesse final de semana?" - indagou pelo celular. Depois de ter aceito o convite fui saber dos detalhes: festa com banda tocando rock, dormir na casa dos pais de amigo nosso (que chamarei de Sales), conversar muito, sorrir bastante, comer, beber... Combinamos, então, de sair sábado às três horas da tarde.

Na sexta-feira fiquei sabendo que uma amiga de Donna, que chamarei de Laís, iria também. Já havíamos nos conhecido antes, em uma festa de arraial. Me encantei muito com Laís naquela festa. Talvez esse encanto, já que nos falamos pouco, se deu pelo fato dela ter um rostinho lindo, que lembra uma garotinha de quinze anos.

No sábado, alguns minutos depois das duas horas da tarde, Donna me liga: "Talvez me atrase um pouco, pois só agora estou saindo de casa para ir ao salão". Não sou nenhum Nelson Rodrigues, conhecedor de várias nuances das mulheres, mas pelo pouco que conheço calculei que ela só passaria em minha casa depois das cinco da tarde. Alguns consideram o atraso das mulheres um exagero, mas ao meu ver é um charme nato. Esse atraso cria uma atmosfera de expectativa que só desaparece quando elas, as mulheres, aparecem mais perfumadas e mais lindas do que já são costumeiramente. Nessa mesma ligação Donna me pediu que preparasse um repertório musical para que ouvíssemos durante a viagem, que duraria pouco mais de duas horas.

Agora eu tinha dois desafios: deixar minhas coisas arrumadas para quando Donna e Laís chegassem não ficassem esperando e escolher um bom repertório musical. Baseado nas poucas informações que tinha dos gostos musicais de Laís e no de Donna, convidei então Ivete, Skunk, Capital Inicial, Banda Eva, Nando Reis, Charlie Brown Jr., Paralamas e Titãs. Mochila arrumada e repertório definido, então, foi só esperar por elas. Valeu cada segundo que esperei. Estavam lindas.

Ao som dos convidados conversamos a viagem toda. Nos divertimos com "o medo" de nos perdermos, pois nenhum dos três sabia onde fica Ceres, apesar de Donna e eu já termos ido lá. Falamos sobre a vida, sobre as nossas vidas, sobre a vida de outras pessoas. Brincamos. Sorrimos muito. Por volta das 19:30 chegamos. A família de Sales, nosso amigo, foi muito receptiva. Nos acolheu muito bem. Todos de uma simpatia impar.

A noite, um pouco depois que Donna e eu saboreamos um delicioso licor de Jaboticaba, preparado pela dona da casa, e de Laís tomar um ou dois copos de cerveja com Flávio, irmão de Sales, fomos para a festa. Lugar muito bonito, próximo ao rio que corta Ceres. Iluminação agradável. A banda deu um show. Tocaram muito bem. A organização do evento estava perfeita. Da limpeza dos banheiros ao maravilhoso serviço dos garços que não deixavam ninguém de copo vazio. Nem mesmo o frio que fazia prejudicou a noite.

Tudo estaria perfeito, não fosse uma tristeza quase imperceptível no fundo dos olhos de Laís. Alguma coisa estava lhe preocupando. Depois de algumas tentativas minhas finalmente ela contou o que era e conversamos quase a noite toda, mesmo com o som auto que nos fazia gritar para conseguirmos nos ouvir, mas que também nos fazia conversar de rosto colado. Confesso que o perfume me agradou muito. Foi assim que descobri que, apesar de ter rostinho de menina e pouca idade, as palavras de Laís são de uma mulher que já viveu muitas coisas nessa vida. Suas histórias são complicadas como as minhas. Seus sonhos possíveis de serem alcançados. Sua alma a de pessoa boa, dessas que a cada dia se tornam mais difíceis de se encontrar.

No outro dia, depois de um almoço delicioso, com direito a churrasco, Tucunaré assado e um feijão tropeiro de dar inveja aos mais conceituados chefes brasileiros, Laís e eu fomos para frente da casa, onde sentamos numa pequena pilastra que cerca a árvore que nos deu sombra. Conversamos novamente. Pude conhecer um pouco mais da vida dela. Sobre sua profissão. E de tudo que ela viveu até aquele momento.Teve partes tão tristes que tive vontade de encostá-la no meu ombro e deixá-la chorar sem dizer mais nada, mas nossa convivência ainda não me dá liberdade para tanto.

O mais importante nisso tudo foi ver a determinação de Laís. Poder compartilhar da vida dela. Saber o quanto ela confiou em mim para contar tantas coisas. Lembrar que não sou o único que enfrenta, de cabeça erguida, os problemas que a vida trás. Perceber que nós, todos os três, Donna, Laís e eu queremos o que, provavelmente, todo ser humano quer: ser feliz com os pequenos detalhes que a vida nos proporciona como, por exemplo, um final de semana tão agradável como esse, com direito a pequenos detalhes tão preciosos e tão sinceros.




Letra

Tradução

2 comentários:

Anônimo disse...

que lindo :)
e' bonito enxengar cada mundo dentro de cada pessoa ne'? e a leitura dos olhos... fiquei imaginando muita coisa..
e inclusive o clima sereno de goias.

Junio Jose disse...

É bonito sim... Nenhuma máquina conseguirá enxergar isso. Isso é da gente. Saudade dos seus olhos...